LEITURA & DEBATE : A TRANSFERÊNCIA

LEITURA & DEBATE : A TRANSFERÊNCIA

 

 

A  TRANSFERÊNCIA

 

 

Freud, ainda desenvolvendo sua técnica, chega a outra descoberta: além da primeira resistência à lembrança, havia uma segunda. Consistia em sentimentos deslocados para o analista originários, geralmente, das relações familiares. A essa nova resistência deu o nome de Transferência.

Nas palavras do mestre: “A transferência é somente uma repetição, sendo a repetição uma transferência do passado esquecido, não
apenas para o médico, mas sobre todos os aspectos da situação em curso”.
Ao transformar a resistência e a transferência de obstáculos em instrumentos do analista, Freud fez com que a relação terapêutica se tornasse o próprio agente terapêutico. Portanto, a partir disso, o que passa a estar em jogo não é somente a inteligência ou o conhecimento teórico-técnico do médico, mas a sua própria dinâmica inconsciente envolvida na relação terapêutica.

Além de conhecer os princípios que se baseiam os métodos que levam às mudanças internas e externas que a técnica propõe é preciso que o candidato a psicanalista se torne mais receptivo ao inconsciente do outro através do trabalho de levantamento e reconhecimento das defesas inerentes às relações inter e intrapessoais.Neste sentido, o analista só pode captar no outro aquilo que já aceitou dentro de si como próprio e que, portanto, pode ser reconhecido no outro sem angústia, nem rejeição.

O método psicanalítico, já estruturado em suas bases, recria regra fundamental que rege o paciente, só que agora voltada para o terapeuta. Ao escutar o que o paciente lhe diz e, ao se identificar com os pensamentos, desejos, temores e sentimentos dele que se entregue também à Associação Livre. Que possa criar uma capacidade interna de admitir em sua consciência todos os pensamentos e sentimentos possíveis. Freud chamou a isso de Atenção Flutuante.

Portanto, a capacidade do analista em encontrar pistas no inconsciente do seu paciente vai depender do grau em que ele esteja consciente, o mais possível, de seu inconsciente.
Esta premissa técnica torna necessário que o candidato a psicanalista seja também submetido ao método que utiliza, a psicanálise, para estar em condições de analisar o outro.

 

Ronaldo Marinho

 

Ronaldo Marinho é Psicólogo, Psicanalista, Membro efetivo da SPAG-RJ, onde foi Presidente e Diretor de Publicações. Foi co-autor do Projeto de Implantação e Funcionamento do Centro de Atenção Psicossocial Nise da Silveira em Petrópolis, RJ, e seu primeiro Coordenador. Na mesma cidade introduziu a psicanálise com grupos durante sua atuação nos ambulatórios de saúde mental.

 

Obs.: Esse texto foi publicado no Facebook e no Instagram da SPAG-RJ na primeira quinzena do mês de setembro, em continuidade à proposta:  Leitura&Debate.