LEITURA & DEBATE : MAS, O QUE É PSICANÁLISE?

LEITURA & DEBATE : MAS, O QUE É PSICANÁLISE?

 

 

 MAS, O QUE É PSICANÁLISE?

 

À rigor, a palavra psicanálise deveria ser aplicada somente aos métodos de investigação do Inconsciente, criados por Sigmund Freud e aos
procedimentos técnicos derivados dessa investigação. Designa um tipo de abordagem técnica que, submetida aos pressupostos teóricos retirados da aplicação dessa técnica, veio a criar um método de tratamento de distúrbios neuróticos.

Segundo o próprio Freud, Psicanálise é nome de:
“1) Um procedimento para investigação dos processos mentais que são quase inacessíveis para qualquer outro modo;
2) Um método, (baseado nessa investigação) para tratamento de distúrbios neuróticos;
3) Uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo dessas linhas, e que gradualmente se acumula numa nova disciplina.”
Já em 1914, menos de vinte anos depois do lançamento oficial do nome Psicanálise, Freud reclamava publicamente do uso que era feito com o nome de sua criação e assumia para si o mérito e consequente direito de dizer o que era e o que não era Psicanálise.

Mais uma vez, nas palavras do próprio Freud: “Não é de se estranhar o caráter subjetivo desta contribuição que me proponho a trazer à história do movimento psicanalítico, nem deve causar surpresa o papel que nela desempenho, pois a psicanálise é criação minha; durante dez anos fui a única pessoa que se interessou por ela e todo desagrado que o novo fenômeno despertou em meus contemporâneos, desabou sobre minha cabeça em formas de críticas. Embora, de muito tempo pra cá eu tenha deixado de ser o único psicanalista existente, acho justo continuar afirmando que, ainda hoje, ninguém pode saber melhor do que eu o que é psicanálise. Em que ela difere de outras formas de investigação da vida mental, o que deve precisamente ser denominado de Psicanálise e o que seria melhor chamar de outro nome qualquer”.

E continua: “A pressuposição de existirem processos mentais inconscientes, o reconhecimento da teoria da resistência e recalque, a
apreciação da importância da sexualidade e do Complexo de Édipo constituem o principal tema da psicanálise e os fundamentos de sua teoria. Aquele que não possa aceitá-los a todos não deve considerar-se a si mesmo como psicanalista.”

Tecnicamente singular, a criação do nome Psicanálise, visou antes de tudo, salientar sua maior revelação.

Como sempre, nas palavras do próprio Freud: “Os sintomas e as manifestações patológicas do paciente são, como todas as suas atividades psíquicas, de natureza altamente compostas; os elementos dessa composição são, em última análise, motivos, moções pulsionais.”

Em outras palavras: o trabalho do psicanalísta é trazer à consciência as forças psíquicas recalcadas, desconhecidas pelo paciente que são causa dos estados neuróticos. O objeto de investigação (o recalcado); o objetivo (tornar consciente o que é recalcado); o efeito (a resolução do conflito), portanto, conteúdo, método e resultado a fazem diferente de outras psicoterapias, notadamente daquelas que utilizam técnicas sugestivas, exercícios ou que procuram fomentar ações, atitudes ou comportamentos supostamente mais adequados, eficientes ou aceitáveis.

Ronaldo Marinho

 

Ronaldo Marinho é Psicólogo, Psicanalista, Membro efetivo da SPAG-RJ, onde foi Presidente e Diretor de Publicações. Foi co-autor do Projeto de Implantação e Funcionamento do Centro de Atenção Psicossocial Nise da Silveira em Petrópolis, RJ, e seu primeiro Coordenador. Na mesma cidade introduziu a psicanálise com grupos durante sua atuação nos ambulatórios de saúde mental.

 

Obs.: Esse texto foi publicado no Facebook e no Instagram da SPAG-RJ na segunda quinzena do mês de Julho, em continuidade à proposta da Leitura&Debate.